sexta-feira, 2 de julho de 2010

Drácula

Início dos anos 70 não perdia cinema. Morava em Elói Mendes. A partir dos 6 anos já era um apaixonado pela Sétima Arte. Assistia muito bang-bang à italiana. Ia com meu pai. Certo final de semana fomos assistir ao "Dólar Furado" com Giuliano Gemma. Enquanto aguardávamos  o inicio da sessão, ficava admirando as fotos de cenas dos filmes anunciados para outros dias. Papai conversava com amigos e eu lá, viajando nas imagens. Pulava de uma divulgação para outra, até que parei em uma bastante diferente: era sobre o filme "O Conde Drácula" com o ator Christopher Lee. Fiquei fascinado e ao mesmo tempo aterrorizado. Não podia perder aquilo. Era impróprio para menores. Não haveria problema, papai era amigo do pessoal do cinema. Tinha certeza que daria um jeitinho. Não comentei nada com ele durante a exibição do faroeste.

Saímos do cinema. Antes dei outra olhadela para o grande cartaz com a imagem do Drácula. Aquela noite nem dormi direito. Medo, fantasias e maquinando como convencer o velho a me levar para assistir aquela "maravilha".

Durante dias bajulei meus pais. Até que chegou o momento de dar as cartas. Meu coração estava a mil. Após o pedido, minha mãe negava, dizendo que ficaria traumatizado. Não era filme para crianças. Papai a princípio relutou, mas como era de seu feitio declarou: iremos ao cinema, mas se eu ficasse cagando de medo, não queria ninguém dormindo na cama dele. A decisão estava em minhas mãos.

E lá fomos nós. Papai estava contrariado, mas havia dado sua palavra. Eu todo orgulho e quase não me contendo de tanta ansiedade. A fila era imensa. O hall de entrada estava completamente lotado. Passei um sufoco desgraçado. Pois só havia gente grande. Estava quase sem ar no meio daquele povão. Meu pai não pegou-me no colo, afinal eu teria de me virar. Não era o bonzão? Que me portasse como "adulto". Confesso que quase desisti naquele momento. O povo não andava e eu lá "embaixo", só vendo pernas por todos os lados. Finalmente as portas da sala de exibição foram abertas. A turba moveu-se.

Sentamo-nos nas primeiras fileiras. O filme começou. Cara, nunca senti tanto medo. Só faltei borrar as calças. E  o filme não acabava. Pânico total. E agora? Como vou dormir sozinho? Naquela casa tão grande. Tô ferrado. No caminho de casa, agarrei-me na mão do papai. E ele só me zoando e dando mais medo ainda. Na hora de dormir, ele cumpriu o prometido e não me deixou dormir com eles. Aí minha doce mãezinha ficou comigo até que pegasse no sono. Depois de alguns copos de água com açúcar.

Aprendi a lição (pelo menos enquanto as lembranças do filme ainda voltavam à memória) de ouvir o conselho dos pais. Afinal  a proibição de assistir ao Drácula era apenas com o intuito de proteger-me. E mostrou como eles me conheciam bem. Bem mais do que eu mesmo.

2 comentários:

  1. Adorei o texto. Claro que em menor proporção, mas me fez lembrar de quando assisti ET no cinema. Não me lembro o ano, mas eu era muito pequena e morria de medo daquele bichinho estranho. Cada vez que ele aparecia, eu cobria os olhos! Só consegui reassistir depois de adulta, por causa do trauma! kkkk

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  2. Gostei muito do texto! Fez-me lembrar do medo que passei (claro que em menor escala) quando fui assistir a estreia de E.T. no cinema. Não me lembro exatamente o ano, mas eu era criança. Não conseguia olhar para aquele ser estranho sem sentir medo. O trauma durou até poucos anos atrás quando tomei coragem e reassisti o filme! rsrsrs

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